Fogaréu ocorria de forma ininterrupta desde os anos 1960 e agora volta com grande expectativa. Hotéis e pousadas estão lotados.

Após dois anos suspenso por causa da pandemia da Covid-19, a Procissão do Fogaréu voltará a acontecer na cidade de Goiás, antiga capital goiana, reconhecida como Patrimônio Histórico e Cultural Mundial pela Unesco. Realizada pela primeira vez há quase 280 anos, trata-se de uma das principais celebrações da Semana Santa no estado.

“A expectativa é grande! Esperamos um número expressivo de pessoas. A gente chega até, de certa forma, se assustar um pouco, mas as pessoas estavam muito saudosas dessa procissão”, disse a diretora de projetos turísticos de Goiás e presidente de honra da Associação de Restaurantes, Pousadas e Hotéis de Goiás (Arphos), Suzana Magalhães.

O Fogaréu encena a prisão de Jesus Cristo e começa à meia-noite desta quarta-feira (13/4). Durante a cerimônia, a iluminação pública da cidade é apagada e um grupo de 40 homens encapuzados saem da porta da Igreja da Boa Morte, segurando tochas de fogo e ao som de tambores.

Símbolo da retomada

A procissão é símbolo da cidade histórica e a sua suspensão por dois anos causou não só danos materiais para hotéis, pousadas e restaurantes, mas também danos emocionais.

“Interromper uma tradição é muito difícil. Foi um momento de muita tristeza. A gente agradece por deixar esse momento para trás. Está sendo um marco para a retomada. Não tinha momento melhor para a cidade estar voltando à vida. A cidade estava triste”, defendeu Suzana Magalhães.

Mas ainda não é possível indicar se a cidade, nesse retorno das celebrações da Semana Santa, poderá retornar ao público de 40 mil pessoas que procurava a antiga capital somente na noite da procissão mais famosa do período.

A Procissão do Fogaréu é realizada há 277 anos, mas teve um intervalo em que deixou de ser executada, o que foi retomado nos anos 1960. A celebração contou com R$ 260 mil do Programa Estadual de Incentivo à Cultura, a Lei Goyazes.

Percurso

Os homens encapuzados com chapéus cônicos coloridos são chamados de farricocos e representam os soldados romanos que prenderam Jesus Cristo.

No início da procissão, eles caminham até a Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde é encenada a última ceia. Em seguida, marcham até a Igreja de São Francisco de Paula, onde é encenada a prisão de Jesus Cristo, representado por uma imagem pintada em um estandarte. Os sons dos tambores aceleram conforme se aproxima a prisão de Cristo.

Depois da Procissão do Fogaréu, outras atividades presenciais vão marcar a Semana Santa na cidade de Goiás. Na noite de quinta-feira, por exemplo, ocorrerá a procissão dos penitentes, que simboliza o pedido de perdão para as almas no purgatório. Homens de branco encapuzados passam por igrejas até o destino final no cemitério, já de madrugada.

Tradição centenária

As origens das celebrações da Semana Santa, incluindo a Procissão do Fogaréu, remontam de 1745, quando chegou à cidade de Goiás (então capital da província e chamada de Vila Boa de Goiás) o padre espanhol João Perestrello de Vasconcelos Spínola.

O sacerdote estrangeiro trouxe da Península Ibérica as tradições do período religioso. Ele fundou a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, que desde então passou a estar à frente das alegorias e representações na Semana Santa na cidade.

Ainda que existam vários momentos marcantes, o ritual mais conhecido é, sem sombra de dúvidas, a Procissão do Fogaréu. A simbolização da procura e prisão de Cristo pelos farricocos é famosa em todo o país e até no exterior.

O espetáculo que mescla escuridão com a luz e fumaça das tochas e as cores das roupas dos farricocos é encantadora.